terça-feira, 12 de julho de 2011

Falar bem em público se aprende na escola


Seminário, debate e entrevista são conteúdos curriculares. Para que todos aprendam a tomar a palavra, é essencial orientar a pesquisa, discutir bons modelos, refletir sobre simulações e indicar formas de registro

Beatriz Santomauro (bsantomauro@abril.com.br)
Quem não apresenta suas ideias com clareza ou defende mal seus argumentos diante um grupo enfrenta problemas tanto na sala de aula como na vida profissional. A escola, no entanto, não tem se dedicado à questão como deve. Embora o ensino da língua oral esteja previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) há mais de uma década, essa prática está longe de ser prioridade. Ela é confundida com atividades de leitura em voz alta e conversas informais, que não preparam para os contextos de comunicação.

"Comunicar-se em diferentes contextos é questão de inclusão social, e é papel da escola ensinar isso", explica Claudio Bazzoni, assessor de Língua Portuguesa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e selecionador do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. O que todo professor precisa incluir em seu planejamento são os chamados gêneros orais formais e públicos, que têm características próprias, pois exigem preparação e apresentam uma estrutura específica.

A língua oral está organizada em gêneros (entrevistas, debates, seminários e depoimentos) e o empenho do professor nas aulas deve ser o mesmo dado aos gêneros escritos (contos, fábulas, crônicas, notícias e outros). Assim como não há um texto escrito sem propósito comunicativo, tampouco existe uma só maneira de falar. É preciso criar contextos de produção também para os gêneros do oral - em que se determinam quem é o público, o que será dito e como. "É isso que permite aos alunos se apropriarem das noções, das técnicas e dos instrumentos necessários ao desenvolvimento de suas capacidades de expressão em situações de comunicação", explica Bernard Schneuwly, da Universidade de Genebra, na Suíça, no livro Gêneros Orais e Escritos na Escola.

A diferença entre a língua falada e a língua escrita é uma questão antiga. Até a década de 1980, elas eram consideradas opostas. Enquanto a primeira aparecia como incompleta e imprecisa, a segunda simbolizava formalismo e planejamento. Os debates recentes apontam para um caminho bem diferente. "O oral e o escrito têm pontos de contato maiores ou menores, conforme o gênero", defende Roxane Rojo, docente de pós-graduação em Linguística Aplicada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

É necessário, portanto, ensinar a preparação de situações de comunicação oral com base num planejamento que requer quatro condições didáticas: orientação da pesquisa, discussão de modelos, análise de simulações ou ensaios e indicação de formas de registro. Veja nas páginas seguintes como desenvolvê-las na produção de entrevistas, seminários e debates.

Coordenador Pedagógico: um profissional em busca de identidade


Pesquisa da FVC conclui que a formação de professores começa a ser o foco da atuação do coordenador, mas ele ainda sofre com a falta de apoio

Em algumas redes de ensino, ele é chamado de orientador, supervisor ou, simplesmente, pedagogo. Em outras, de coordenador pedagógico, que é como GESTÃO ESCOLAR sempre se refere ao profissional responsável pela formação da equipe docente nas escolas. Nas unidades que contam com sua presença, ele faz parte da equipe gestora e é o braço direito do diretor. Num passado não muito remoto, essa figura nem sequer existia. Começou a aparecer nos quadros das Secretarias de Educação quando os responsáveis pelas políticas públicas perceberam que a aprendizagem dos alunos depende diretamente da maneira como o professor ensina.

Diante desse cenário, a Fundação Victor Civita (FVC) decidiu descobrir quem é e o que pensa esse personagem relativamente novo no cenário educacional brasileiro, escolhendo-o como tema de uma pesquisa intitulada O Coordenador Pedagógico e a Formação Continuada de Professores: Intenções, Tensões e Contradições. Realizado pela Fundação Carlos Chagas (FCC), sob a supervisão de Cláudia Davis, o estudo teve a coordenação de Vera Maria Nigro de Souza Placco e de Laurinda Ramalho de Almeida, ambas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e de Vera Lúcia Trevisan de Souza, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Graças a ela, fizemos esta edição especial, com reportagens e seções tratando de temas relativos à coordenação pedagógica.

Uma das principais conclusões da pesquisa é que, apesar de ser um educador com experiência, inclusive na função (saiba mais sobre o perfil desse profissional no quadro abaixo), ainda lhe faltam identidade e segurança para realizar um bom trabalho. Ele se sente muito importante no processo educacional, mas não sabe ao certo como agir na escola frente às demandas e mostra isso por meio de algumas contradições: ao mesmo tempo em que afirma que sua atuação pode contribuir para o aprendizado dos alunos e para a melhoria do trabalho dos professores, não percebe quanto isso faz diferença nos resultados finais da aprendizagem (veja mais no quadro da próxima página). "A identidade profissional se constrói nas relações de trabalho. Ela se constitui na soma da imagem que o profissional tem de si mesmo, das tarefas que toma para si no dia a dia e das expectativas que as outras pessoas com as quais se relaciona têm acerca de seu desempenho", afirma Vera Placco.
Quem são os coordenadores pedagógicos no Brasil
Um resumo das características do profissional que atua nessa função

90% são mulheres

88% já deram aula na Educação Básica

76% têm entre 36 e 55 anos

A maioria tem mais de 5 anos de experiência na função
Quem são os coordenadores pedagógicos no Brasil
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